terça-feira, 15 de setembro de 2009

Butterflies


Acredito que inúmeras são as dores e dificuldades da nossa profissão, mas a dor maior que eu já senti durante esses quase 20 anos como professora, foi a dor da perda de pessoas queridas. Embora acredite que a morte seja apenas física, mesmo sabendo que estamos aqui de passagem, que a vida terrena não passa de uma escola, e que sempre chega a hora de voltarmos a pátria espiritual, pois aqui não é o nosso verdadeiro lar, eu ainda tenho algumas dificuldades para aceitar a morte. A primeira vez que lidei com a morte na escola, foi há bastante tempo atrás, logo no comecinho da minha carreira. Tarcísio era um menino muito levado, desses que nenhum professor aguenta. Estava na 6ª série, aprontava todas, não sossegava um segundo. Era aquele tipo de menino que nenhum professor esquece, de tão terrível que era. Numa sexta-feria, ele se despediu da gente. No final do período, ele simplesmente encheu os professores de bala e gritava no portão da escola: "Tchau gente! Adoro vocês!." E ele não voltou mais. O pequeno Tarcísio morreu em um acidente de carro. Lembro que eu não soube lidar com aquela notícia. "Como assim? Um aluno meu morto? Uma criança?." Foi uma confusão na escola. Tristeza geral com a ausência do Tarcísio. Tudo na escola me fazia lembrar do menino. A carteira onde ele sentava, os irmãos que ainda estudavam na escola, os amiguinhos, o seu jeito moleque de ser. Eu me perguntava: "O que eu poderia ter feito por ele?" Não tinha mais jeito, ele já havia partido. Bom, passaram-se os anos e estava tudo quase normal, quando de repente... Desta vez foi a linda Lívia. Lívia estudava na mesma sala do Tarcísio, só que agora ela estava na oitava série. Era uma menina doce, educada e marcou demais na minha vida. Me escrevia bilhetinhos, me tirou no amigo secreto e eu a tirei também. Lívia voltava de uma balada com os amiguinhos e seu carro bateu em uma árvore e pegou fogo. Ela não conseguiu se salvar, pois usava o cinto de segurança. Lívia morreu queimada. Eu fiquei questionando sobre a vida, sobre porque estávamos aqui. Como pode um menina tão linda e doce com apenas 14 anos, morrer desse jeito? Toda destruída? Não sei, só sei que pensei sinceramente que não fosse passar por isso novamente, mas aconteceu mais uma vez. Dessa vez, foi um menino doce, mas ao mesmo tempo, sabe aqueles alunos que nem abrem o caderno? Leandro era assim. Não fazia nada. Mas o que me incomodava era que ele andava muito calado, muito triste. Foi o ano inteiro assim e aquilo me intrigava demais. Todas as semanas quando eu ia para a sala dele, gostava de chegar perto dele e perguntar se estava bem, se queria conversar, o que o entristecia. Ele nada dizia, só a tristeza tomava conta do seu semblante. Até que, uma semana antes das aulas terminarem, em Dezembro de 2008, eu vi Leandro feliz como nunca o vira antes. Não esqueço o seu sorriso largo vindo até mim só para contar que estava namorando. Ele havia pedido em namoro uma fofinha da outra 8ª série. Veio me mostrar a aliança na mão e disse que havia feito o pedido para o pai da Carol. Lembro que eu disse pra ele: "Ahhhhhhhhhhh!!!! Que lindo!!!!!!!!!!!!! Cuida dela direitinho e namora direitinho porque ela é uma fofa, tá?" Ele só sabia sorrir. É a última lembrança que eu tenho dele. Algumas semanas mais tarde, estávamos na reunião de balanço de final de ano, quando veio a notícia da morte do Leandro. Eu não acreditei! Como pode? Ele passou o ano inteiro triste e agora que estava feliz ele se foi? A vida é mesmo um mistério. Ainda penso muito nele e sempre em minhas orações tenho o Leandro em minha mente, não só ele, mas também sua irmã Maria, uma fofa de menina. Resolvi postar esta mensagem em homenagem aos meus queridos que estarão pra sempre no meu coração. Não quero acreditar que eles se foram, mas prefiro pensar que eles somente saíram do casulo. São como as borboletas.

Que esse trecho da música "Someone saved my life tonight" de Elton John, seja uma homenagem as minhas queridas butterflies.

"You're a butterfly,
And butterflies are free to fly,
Fly away, high away bye bye."

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